O político moçambicano Venâncio Mondlane considerou hoje que o partido que quer fundar será um “movimento único” e afirmou que a criação da força política está a “passos avançados” para ser a “melhor alternativa” de Governo em Moçambique.
Ou seja, “isto não será um partido, será mais do que um partido. Vai ser uma organização cujo efeitos políticos, sociais e humanitários vão equivaler ao que a bíblia diz: aquilo que nenhum olho já viu, aquilo que nenhum ouvido já ouviu e aquilo que nenhuma mente imaginou”, declarou à Lusa o ex-candidato presidencial, que lidera a contestação pós-eleitoral, durante uma passeata com milhares de simpatizantes pelas arteiras da capital moçambicana, Maputo.
Segundo Venâncio Mondlane, a força política deverá ser apresentada este ano e a ambição do “movimento” é assumir a posição de “alternativa política” para um povo que “exige mudanças”.
“Neste momento estamos a passos muito avançados para sermos a melhor alternativa de Governo em todo os 50 anos da independência em Moçambique”, acrescentou.
Em causa estão divergências entre Venâncio Mondlane e a direcção do partido Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), uma força política que viu a sua popularidade aumentar desde o anúncio, a 21 de Agosto de 2024, do apoio à candidatura do político nas presidenciais de 9 de Outubro.
O “acordo político” entre Venâncio Mondlane e o Podemos aconteceu pouco tempo depois de a sua Coligação Aliança Democrática (CAD) ter sido rejeitada pelo Conselho Constitucional por “irregularidades”.
Nas eleições de 9 de Outubro, o Podemos, que nunca teve um deputado no parlamento desde a sua criação (2019), tornou-se o maior partido da oposição em Moçambique, tirando um estatuto que era da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), desde as primeiras eleições multipartidárias, em 1994.
Venâncio Mondlane, que lidera a contestação aos resultados em Moçambique, voltou a manifestar a sua abertura para dialogar com Daniel Chapo, actual Presidente moçambicano, para o fim da crise pós-eleitoral em Moçambique.
Daniel Chapo está em diálogo com partidos políticos para discutir reformas estatais, incluindo a alteração da lei eleitoral e da Constituição, iniciado pelo anterior Presidente, Filipe Nyusi, face à crise pós-eleitoral no país.
Em Janeiro, Daniel Chapo anunciou consensos sobre termos de referência para discutir reformas estatais, incluindo alterações à lei eleitoral, após um encontro com quatro líderes de forças partidárias, mas sem a presença de Venâncio Mondlane, o segundo votado mais de acordo com o Conselho Constitucional.
“Eles continuam abertos [ao diálogo]. Eles continuam a acreditar que vão governar com base nas armas, mas armas, perante este povo, não são nada”, declarou Venâncio Mondlane, numa alusão às milhares de pessoas que o acompanharam por mais de 15 quilómetros.
Venâncio Mondlane promete continuar a exigir ao executivo moçambicano melhorias para os moçambicanos.
“Já começámos a tocar em alguns aspectos que mostram a avanços. Por exemplo, as portagens, que nós exigimos o seu fim, agora o próprio Governo reconhece e já está a encetar conversações com as concessionárias para redução de preços”, declarou Venâncio Mondlane.
Moçambique vive desde Outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas, primeiro, por Venâncio Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais que deram vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frelimo.
Actualmente, os protestos, em pequena escala, têm ocorrido em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e outros problemas sociais.
Desde Outubro, pelo menos 327 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 750 foram baleadas durante os protestos, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais.